sábado, 31 de julho de 2010

desce...

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Desci pra buscar uma coisa no carro e encontrei no elevador uma vizinha, seu filho de uns 8 anos com um cãozinho no colo, enrolado numa toalha, e o menino aos prantos. Pelo que entendi bateram a porta na pata do Totó e quebrou ou cortou, sei lá. A toalha tava meio ensangüentada. Sei que em 2 minutos dentro do elevador a mãe do guri deve ter esculhambado ele umas 30 vezes dizendo que fosse homem e não chorasse por uma bobagem dessas.

Tá, eu não sou mãe, mas me parecia tão mais fácil pegar o guri no colo e dizer: “preciso que você pare de chorar pra eu poder cuidar do (coloque aqui o nome do cãozinho). Sei que você está com muito medo, mas vai ter que guardar isso mais um pouco. Posso contar com você?”

Sei também que com essa cena acabei me lembrando como nossos discursos em geral são contraditórios. Vivemos pregando pras pessoas serem elas mesmas, mas na primeira demonstração de fragilidade ou carência, puff, já mandamos segurar a onda. Gente, mas aquele ser frágil ali não seria o “ela mesma”? Vivemos pregando sinceridade e execrando a mentira mas basta eu dizer que fulana tá horrenda com aquela blusa (normalmente diretamente pra fulana) pra ser taxada de monstra – pária – da – sociedade. Não tô entrando no mérito aqui de que pra tudo deve prevalecer o bom senso e blábláblá, mas sim questionando como pode uma criança, ao crescer, saber como agir se os adultos vivem mandando mensagens cifradas.

Sei lá, pode ser só coisa de uma pessoa que não tem filhos e que não sabe se o garoto não é um psicopata que tortura o cãozinho, mas ali no elevador e lembrando de várias coisas que já vi na vida, me parece que a gente tem que ser a gente mesmo, desde que esse a “gente mesmo” não seja frágil, nem carente, nem feio e nem porco.
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